QUALIDADE EM ROTOMOLDAGEM
A QUALIDADE NA ROTOMOLDAGEM
Noriaki Kano (importante pesquisador japonês de gerenciamento da qualidade) propôs uma definição bastante difundida no ocidente, onde explica qualidade como – “Produtos e serviços que atendem ou excedem as expectativas do consumidor”.
Há mais de 30 anos que transito em diversas empresas de rotomoldagem.Por este motivo, conheci diversas abordagens e entendimentos do assunto “qualidade”:
- Algumas empresas possuíam um real interesse em ter um produto de qualidade e uma filosofia bem instalada entre os colaboradores de pesquisa do processo e sua melhoria constante.
- Outras que tinham uma “noção de qualidade”, produzindo um produto “aceitável”, sem exceder as expectativas dos clientes. Acreditavam que qualidade está somente no produto final, e por isto somente medidas emergenciais para corrigir o processo eram realizadas, sem uma análise profunda e técnica do mesmo.
- E muitas, eram empresas sem noção do que é “qualidade” e nenhum conhecimento técnico do processo. Produziam as peças daquela forma, “porque sempre fizeram assim”, e o produto “não retornava dos clientes finais”. Estas empresas são resumidas por um famoso ditado: Para um navio perdido, qualquer porto é porto de chegada!! Muito difícil explicar a um empresário uma noção que ele não tem (e as vezes não quer ter: por medo de não entender, por não gostar de mudanças, ou por achar que isto terá um alto custo).
CONCEITOS DE QUALIDADE NA ROTOMOLDAGEM
Gostaria de expor meu ponto de vista do que significa qualidade em uma planta de rotomoldagem.
Ela não é só aplicável ao produto final, mas sim a toda cadeia produtiva, que poderá ter um efeito positivo ou negativo no resultado final, determinando até a longevidade da empresa no mercado.
Alguns componentes de uma rotomoldagem para melhoria da qualidade:
- Colaboradores:por ser um segmento de transformação de plásticos aonde a tecnologia automatizada ainda não é muito utilizada, a qualidade e motivação da mão de obra envolvida tem que ser alta.
Todo funcionário envolvido no processo é responsável pela qualidade final do produto, desde o recebimento da matéria prima, até o envio da peça ao cliente.
Portanto ele tem que estar motivado, capacitado a entender o processo, suas variantes e as necessidades de qualidade de cada etapa.
Cabe ao empresário manter estes colaboradores informados de todas as novas tecnologias de processo através de cursos, treinamentos e palestras, uma política clara de controle da qualidade e com equipamentos e instalações adequadas a realização do trabalho.
- Layout da empresa:
O resumido esquema de layout das áreas de uma rotomoldagem que coloquei acima, parece obvio para a maioria das pessoas, entretanto na vida real, muitos “chãos-de-fábrica“ de rotomoldagens apresentam um verdadeiro caos: o local de armazenamento de matéria-prima é o mesmo de produto acabado, a área de acabamento está posicionada antes da área de produção, o preparo do composto é ao lado das maquinas rotomoldadoras, não existe demarcação clara de cada área, pequenas aparas por todo chão de fábrica, etc., etc.
Um ambiente caótico, desorganizado e sujo dificilmente resultará em um produto de qualidade.
- Equipamento:
Atualmente possuímos ótimos fabricantes de equipamento de rotomoldagem (nacionais e estrangeiros).
Entretanto muitas empresas, na busca de viabilidade econômica, ainda fabricam seus próprios equipamentos.
Nada contra esta alternativa, entretanto a maioria dos equipamentos são construídos sem o mínimo conhecimento técnico de maquinas para rotomoldagem e suas especificações para a produção de peças.
Produzidas com aço inadequado, pouca isolação térmica, redutores e eixos sub- dimensionados, rotações fixas, sem opções de se alterar o processo em seus mínimos detalhes. Com estes problemas o controle de parâmetros do processo pelo rotomoldador é afetado, e teremos peças com baixa qualidade.
- Fornecedores:
Na eterna briga por adequação de custos, rotomoldadores procuram fornecedores com preços melhores.
Esta é uma atitude saudável, mas precisamos analisar com muita cautela até quanto o preço não está interferindo na qualidade.
Resina, pigmentos, aditivos, e principalmente moldes de custo muito inferior ao praticado no mercado, com certeza entregam um produto final com qualidade reduzida. Desenvolver fornecedores confiáveis é muito difícil e demorado, e sempre recomendo, que após acerto de todos os parâmetros de processo e qualidade do produto, se mantenha estes fornecedores, sem muita alternância, pois a cada pequena variação destes componentes o processo tem que ser reajustado, demandando tempo e muitas vezes, perda de peças.
- Laboratório:
A maioria de rotomoldadores, quando se fala em laboratório, “torcem o nariz”.
Alguns acham que são caros ou não precisam, porque compram a resina pronta para uso, devidamente micronizada e pigmentada.
Mas um pequeno laboratório com três ou quatro testes básicos e de baixa tecnologia, para análise de compostos e produto final é fácil de ser implantado e não custa caro, permitindo um aumento considerável na qualidade.
É altamente recomendável que toda empresa de rotomoldagem possua:
- Um teste de impacto pela norma da ARM(aqui você acha todos os dados para confecção e uso do aparelho: https://cdn.ymaws.com/rotomolding.org/resource/resmgr/pdf/lowtemp.pdf). Com um bom e criativo profissional de mecânica é possível se fazer este dispositivo na própria empresa.
- Um Agitador Eletromagnético de Peneiras para teste de granulometria.
- Um funil para teste de fluidez da resina (https://cdn.ymaws.com/rotomolding.org/resource/resmgr/pdf/dryflowbulkdensity.pdf)
- E uma câmera de luz ultravioleta para teste de solidez a cor dos pigmentos na peça final.
Com estes testes o rotomoldador terá mais repetitividade, qualidade e confiança em seus produtos finais.
- Peça final:
Finalmente a “peça final”, aquilo que para muitos, é o significado de “qualidade” (mas como demonstrado é somente o resultado de uma série de atitudes e procedimentos em todo seu processo). Estas são algumas das características principais de uma peça de qualidade:
- Esteja corretamente processada (sem estar crua ou queimada)
- Espessura uniforme, dentro do padrão
- Não apresente porosidades ou bolhas
- Cor correta, sólida, sem contaminações ou manchas
- Sem abaulamentos ou rechupes
- Encaixes, incertos metálicos e outros anexos corretamente processados
- Dimensões corretas
- Resistente a impacto
QUALIDADE E ROTOMOLDAGEM
O que escrevi acima são apenas alguns dos quesitos (além de atendimento, prazos, etc.) que todo rotomoldador deveria ter como conceito básico de qualidade, mas infelizmente, a realidade é outra.
Ainda existem centenas de empresas aonde o empirismo (traduzindo: o “achismo”) é o principal método de produção e o total desconhecimento técnico do processo é comum.
Isto relega a rotomoldagem a um segundo (ou terceiro) plano nos processos de transformação de resinas termoplásticas. Muitas pessoas acham que todo produto de rotomoldagem possui baixa qualidade quando comparado a sopro ou injeção (o que não é verdade).
Mas isto está mudando, e tenho orgulho em escrever que nosso sistema de termometria sem fio, ROTOMAXI (www.rotomaxi.com.br) , tem uma pequena participação nisto.
Há mais de 3 anos visito empresas para demonstrar/vender este sistema, é impressionante, que mesmo nos lugares aonde o conceito de qualidade não é difundido, as pessoas, que trabalham no mercado de rotomoldagem há anos, ficam maravilhadas com o que ocorre com o polietileno em seu ciclo de transformação, visto através de gráficos/números.
Pessoas que não tinham a noção de toda “matemática“ envolvida no processo, passam a entender que é possível se usar a tecnologia em vez do “achismo” em um chão de fábrica de rotomoldagem.
Mas infelizmente, também percebi que algumas empresas não estão receptivas a este tipo de nova abordagem de produção, preferindo ficar com o famoso bordão: “sempre produzi assim e nunca voltou produto”. Entretanto, as vezes o produto não volta, mas o cliente que tiver problema na qualidade, simplesmente procurará outro rotomoldador.
ROTOMAXI é uma mudança de atitude e de pensamento dos envolvidos no ciclo produtivo, pois torna evidente que desde a matéria-prima até o produto final é possível se ter um processo devidamente analisado, ajustado e de qualidade comprovada através do uso de tecnologias modernas e de fácil utilização.
CONCLUSÃO
A conclusão e meu aprendizado, ao longo destes 30 anos, aonde acompanhei centenas de empresas em seu nascedouro, é:
- Empresas que tem, desde o seu início, mesmo que muito pequenas, um conceito global do que é qualidade, uma política clara de melhoria constante e criatividade em suas linhas de produção e produtos, se tornam grandes e lucrativas.
- Empresas com pouca noção de qualidade, mas que “sentem” que algo precisa ser feito em seu processo, pois os problemas estão atingindo fortemente o produto final, ou o concorrente está crescendo e eles não, estão no caminho correto. É um caminho árduo, pois se absorver um conceito de tamanha magnitude é difícil, demorado e tem um custo. Mas existe esperança para estas empresas, que poderão se tornar grandes e lucrativas.
- Empresas que não entendem o que é qualidade, e não querem mudanças, as vezes ficam anos no mercado, mas crescem muito pouco e possivelmente fecharão suas portas e perderão a guerra para rotomoldagens que entenderam o mercado, suas necessidades e que a chave do sucesso esta na qualidade.
Jose Marques Lopes 23/11/2020